Temperança – Abster-se do que é Prejudicial
A alimentação errada figura como uma das mais poderosas causas de doença, particularmente doenças crônicas e degenerativas, as mais assassinas. No entanto, a dieta inadequada é reconhecidamente fator de queda da capacidade imunitária. Tanto os excessos como as deficiências nutricionais podem acarretar queda de resistência. Fala-se muito em desnutrição como fator de enfraquecimento imunitário (e este é ponto pacífico), enquanto os excessos e os abusos são esquecidos. A dieta baseada em quantidades liberais de açúcar, frituras, massas refinadas, lanches ligeiros, carnes, bebidas e laticínios, hoje muito comum, oferece múltiplos perigos à saúde. Os nutricionistas culpam o excesso de sal, açúcar, gordura e proteína animal, e a deficiência de fibras e certos oligoelementos pela preocupante taxa de incidência de enfermidades degenerativas, como câncer e aterosclerose.
Contudo, não é só no eixo dos excessos e deficiências que reside o perigo. O assunto da alimentação é muito complexo. Há erros críticos no hábito alimentar, que vão da qualidade à quantidade, passando pela harmonia (combinação e proporção de alimentos) e adequação (adequar a dieta ao indivíduo, sua atividade, o clima onde vive etc.). As pessoas não sabem comer. Confundem o ato de comer com um mero ato de “prazer”. Costumam levar em conta somente o lado gastronômico. Claro que se deve comer com prazer, mas, sobretudo, é preciso considerar as implicações nutricionais e físicas do alimento. Quando sei que determinado alimento me faz mal, a atitude sensata é evitá-lo, ou substituí-lo por outro inofensivo. Mas não é assim que muitas vezes agimos. Insistimos em comer o “alimento-bomba”, sem pensar nas consequências. E isso não se aplica a um só alimento, mas a um conjunto deles, inseridos num contexto muito pessoal, que é o hábito alimentar.
Lamentamos, contudo, que preocupante número de pessoas de todas as classes comete verdadeiro suicídio pela alimentação, sem que disso tenha consciência. Já ouviram falar alguma coisa, já leram algo a respeito, mas as ideias parecem desencontradas. Além do mais, os médicos, que deveriam ajudar a esclarecer o assunto, quase nada falam sobre a relação entre dieta e saúde. A mídia lança um conceito espetacular de dieta em que, obviamente predomina o interesse comercial. A maioria dos alimentos que encontramos no comércio está ali por motivos puramente comerciais. Não fazemos ideia da perigosa quantidade de substâncias prejudiciais à saúde que ingerimos todos os dias. Quando ficamos doentes nunca responsabilizamos a comida, que pode, em muitos casos, concentrar a maior parte da culpa.
Por isso, queremos despertar a atenção dos leitores para os grandes riscos que rondam sua dieta. Certa vez, disse alguém que “sobre gosto não se discute”. Sabemos que o gosto das pessoas acha-se hoje pervertido, e o que se chama “dieta normal” é, na verdade, dieta monstruosamente ofensiva.
É no mínimo constrangedor entrar em questões circunscritas à privacidade do indivíduo. “Quem escolhe minha comida sou eu” – é o modo simplista como muitos põem fim a eventuais perplexidades sobre o assunto. Não é fácil convencer alguém a mudar seu hábito alimentar, sedimentado ao longo de décadas, influenciado por caprichos pessoais, ditado pela tradição cultural e familiar.
Pisamos sobre ovos, pois o paladar é ponto hipersensível no comportamento humano. Mas não deliberamos assumir o papel de “desmancha-prazeres”. Só pedimos licença ao leitor para, em síntese, advertir que:
Sua comida pode até ganhar reputação de inocência. Sua alimentação, que abrange o conjunto de hábitos dietéticos (mastigação, uso de sal, molhos e temperos, comer entre as refeições, atração por salgadinhos e guloseimas, festas e reuniões sociais, comes e bebes etc.), pode não aparentar qualquer ameaça importante, mas, com certeza, todos os seus problemas de saúde, que tolhem sua produtividade e afetam seu estado de espírito, têm algo a ver, muito a ver, com sua dieta. Mesmo que você se considere “homem de ferro”, para quem nada faz mal, saiba que a ação da má comida é insidiosa como o cigarro. Pare e pense nisso quanto antes. E tome uma atitude para o bem do patrimônio mais precioso: sua saúde.
Falsos alimentos
Como vimos, muitos “alimentos” chegaram ao mercado por razões exclusivamente comerciais. Pior ainda: podem ser extremamente nocivos à saúde. Chamá-los de alimentos é um erro. Preferimos denominá-los pseudoalimentos (falsamente chamados alimentos).
Quando inventaram os moinhos metálicos, nascia uma nova era culinária. Os ingredientes super refinados conferiam extraordinário sabor e maciez a inúmeros pratos. A gastronomia internacional deixou-se conquistar pela novidade. Em pouco tempo desapareceram das mesas os artigos integrais. E com eles, desapareceram as fibras dietéticas.
Dieta sem fibra é dieta mortífera. As doenças mais frequentes e graves que atormentam o homem moderno, geralmente têm algo a ver com a deficiência alimentar de fibra. Quando falamos na prevenção do câncer, especialmente câncer intestinal, não podemos deixar de mencionar a necessidade de ingerir suficiente fibra dietética. O mesmo vale para enfarte do miocárdio, aterosclerose, diabetes melito, hemorroidas, varizes, apendicite, constipação intestinal, diverticulose e outras doenças, se não graves, comuns e incômodas.
Outras deficiências graves
Além da falta de fibra há falta de vitaminas, minerais e micronutrientes essenciais, que vão por “água abaixo”, ou por “moinho abaixo”. Micronutrientes como selênio, zinco, cromo etc., vêm ultimamente sendo pesquisados com invulgar interesse. Os cientistas os relacionam com várias funções vitais e salientam que sua falta conduz a doenças graves da civilização moderna, como o próprio câncer, além de acelerar o processo de envelhecimento e morte.
Muito em voga estão os estudos sobre Medicina ortomolecular, em que se associam vários micronutrientes, evitando a formação de radicais livres, com a prevenção de processos oxidativos. Os alimentos beneficiados perdem quase todo o teor desses elementos tão necessários à saúde.
A dieta diária de um brasileiro comum, do ponto de vista da ingestão de fibra, é extremamente pobre. O desjejum de pão francês com manteiga e café com leite não oferece nada de fibra. O almoço de feijão com arroz, bife e batatas fritas, às vezes com um pouco de salada ou legume, não costuma conter mais que 5g de fibra. O jantar é igualmente pobre.
Os lanches ligeiros e os refrigerantes também ganham, habitualmente, nota zero em fibra.
Considerando que muitos nem sequer adotam padrão regular de refeições, e outros não usam verduras, legumes nem frutas com regularidade, a ingestão de fibra muitas vezes é inferior a 5g/dia. Tendo em vista que as últimas recomendações tendem a guindar para 25g ou mais a quantidade de fibra que deve ser ingerida diariamente, é evidente que nossos hábitos alimentares deixam muito a desejar. São produtores de doenças graves como o câncer!